Publicado em 2009, Ash é um livro de ficção infanto juvenil. A autora, Malinda Lo, é de origem chinesa e naturalizou-se nos Estados Unidos onde, após cursar as faculdades de Harvard e Stanford, trabalhou como jornalista e editora de conteúdo para o site AfterEllen.com, portal da apresentadora Ellen DeGeneres voltado para o público lésbico e bissexual.
Ash fez grande sucesso na literatura queer, voltada para assuntos que escapam ao heteronormativo, ou seja, livros que tratem sobre, ou que possuam, personagens gays, bissexuais, trans, ou representativos de uma sexualidade fora do padrão. Esse gênero é especialmente escasso no tocante a literatura infantil e infanto juvenil, e, após repetidamente me deparar com comentários sobre o livro (que concorreu a diversos prêmios literários, inclusive o Lambda Literary Awards, prêmio para literatura LGBT) resolvi encomendá-lo. Sinto dizer que esperava um pouco mais.
O livro conta a história de Ash, uma menina que, órfã e à mercê de uma madrasta cruel, busca refúgio em seus devaneios. Um dia, Ash encontra Sidhean, uma fada misteriosa, e pensa ter descoberto a magia que tanto procurava. Porém, quando Kaisa, a Caçadora do Rei, cruza seu caminho, Ash percebe que terá que escolher entre o amor recém-descoberto e a magia com que tanto sonhava – e Sidhean já a tomou para ele.
O livro se propõe fazer uma releitura moderna do conto da Cinderela, e, embora tenha diferenças circunstanciais, o cerne da história é o mesmo – Ash, que significa “cinzas”, é uma referência clara à “gata borralheira”. Apesar da pretensão da autora de abordar temas como morte e aceitação, solidão e descoberta, a falta de personalidade da protagonista torna todo desenvolvimento raso. Ash parece ser carregada na historia por pura inércia literária, e, a indiferença da personagem interfere na leitura. O roteiro se desenrola quase automaticamente, em cima de um modelo de conto de fadas, com uma surpreendente ausência de conflito. Embora Ash se veja forçada a fazer escolhas, essas não se apresentam tanto como problemas quanto como evoluções previsíveis da história.
A identificação com a personagem, cujas motivações parecem quase artificiais, é difícil. Não só isso, mas o romance entre Ash e Kaisa parece em pontos quase forçado e platônico em excesso. Sidhean, provavelmente o mais interessante das personagens, cumpre uma função perfunctória – ele está lá para cumprir seu papel e nada mais.
Embora seja bem escrito, utilize uma prosa acessível e até bonita, e demonstre uma certa dose de sensibilidade, Ash é, em última análise, um conto banal e simplificado, curto demais, e pouco desenvolvido. A grande tragédia, penso, não é que Ash seja apenas uma distração para uma tarde ociosa, mas sim que possuía potencial para ser algo muito mais duradouro e não soube aproveitá-lo. Pode ser uma opção interessante para fãs de romances sobrenaturais como a série Crepúsculo, com o bônus de oferecer uma visão mais saudável de amor. Vale notar também que o livro, embora fale de sentimentos entre mulheres, não é minimamente gráfico ou polêmico, se afastando de qualquer discussão sobre sexo... O que pode ter sido um de seus pontos fracos.
Para interessados, Ash, assim como sua continuação Huntress, é publicado pela editora Little Brown Young Readers, por cerca de $12,00 dólares. Disponível, por enquanto, apenas em inglês.
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