segunda-feira, 14 de novembro de 2011

resenha: The perks of being a wallflower, Stephen Chbosky


The perks of being a wallflower (1999), é um livro de Stephen Chbosky. Chbosky é um escritor e roteirista norteamericano, conhecido pela sua adaptação de Rent (musical inspirado na ópera La Bohéme, de Puccini, que fala de drogas, AIDS, e sexualidade entre um grupo de boêmios modernos) para o cinema. The perks of being a wallflower tornou-se um grande sucesso foi adaptado para filme também, com atuação de Emma Watson, conhecida por interpretar Hermione Granger na série Harry Potter.

Frequentemente contestado por abordar temas como sexo e opção sexual, drogas, abuso e agressão, e suicídio, o livro de Chbosky não deixa de ser cativante e sincero. A história é contada através das cartas que “Charlie”, um apelido fictício, escreve; todas para um conhecido distante. Assim, tudo que sabemos sobre Charlie está limitado às suas cartas e confissões. 

Um menino introvertido e desajeitado, Charlie tenta lidar ao mesmo tempo com problemas como fazer amigos na nova escola, a morte de sua tia favorita, como terminar com sua namorada, até como contar para seus pais que o namorado da irmã bate nela.

Alternando entre momentos de liberdade singular e uma inquietação vaga e opressiva, Charlie enfrenta sua adolescência com candura, buscando aquelas momentos em que pode “se sentir infinito”. A história de Charlie e seus amigos possui um apelo universal – é difícil não se identificar ou simpatizar com Charlie conforme ele tenta lidar com sua “esquisitice”, entender grandes clássicos literários, dar seu primeiro beijo, e descobrir qual é a melhor música de todos os tempos ou, pelo menos, dos últimos meses.

A narrativa limitada às cartas de Charlie amplifica a sensação de intimidade com a história e, ao mesmo tempo em que exclui certas informações circunstanciais, contribui para que cada detalhe seja valorizado. Uma espécie de novo Apanhador no campo de centeio, The perks of being a wallflower lida com temas tão comuns quanto difíceis e, embora seja principalmente um livro juvenil, não deixa de ser um relato despretensioso, emocionante, e acessível. Admito que, em alguns trechos do livro, chorei copiosamente. Uma leitura descomplicada e envolvente, é o tipo de livro que te deixa já com saudades logo ao virar a última página.

Para os interessados: The perks of being a wallflower, em português As vantagens de ser invisível, foi publicado pela editora Rocco no país e pode ser encontrado por cerca de R$29,50.

sábado, 12 de novembro de 2011

resenha: Written on the body, Jeanette Winterson


Written on the body (1992), é uma das primeiras obras da escritora e jornalista inglesa Jeanette Winterson. Lésbica, Winterson dedicou grande parte da sua carreira a tratar de temas geralmente ignorados pela literatura de massa. Autora premiada de ícones da literatura queer como Oranges are not the only fruit e Sexing the cherry,Winterson se demonstra possuidora de uma sensibilidade ímpar e um talento inequívoco para a palavra.

Written on the body é uma história sobre amor, perda, e a possível reconquista do amor. Estilisticamente inovador, prosa e poesia se fundem para formar reflexões ora patentemente óbvias, ora surpreendentes. À primeira vista o livro pode parecer denso, ou mesmo cansativo, mas a maneira fluida com que sua imagética vai sendo construída, assim como o apelo universal do tema, contribuem para que a leitura seja prazeirosa. Confesso que li as 190 páginas em uma única sentada, incapaz de deixar de virar uma após outra.

O livro segue a ótica de uma protagonista de sexo indefinido e sua descoberta do amor. Semelhante a uma carta de amor, a narrativa oscila entre o surreal inflamado e o concreto desesperador conforme os desenvolvimentos na história pessoal da protagonista. Carregado de sensualidade o livro ultrapassa dicotomias como homem/mulher ou corpo/sentimento. Utilizando metáforas anatômicas, quase escatológicas, Written on the body tenta responder uma pergunta:

Por que é a perda a medida do amor?”

Interessante, bonito, e impiedoso, Written on the body, certamente cativará todo aquele leitor que já tiver acreditado amar. Surpreendentemente honesta, a obra demonstra como a literatura não precisa ser difícil para ser bem escrita. Definitivamente, um “livro para se ler antes de morrer”.

Para interessados: Written on the body, em português, Inscrito no corpo, foi publicado no Brasil pela editora Rocco e pode ser encontrado por cerca de R$20,00.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

resenha: Ash, Malinda Lo



Publicado em 2009, Ash é um livro de ficção infanto juvenil. A autora, Malinda Lo, é de origem chinesa e naturalizou-se nos Estados Unidos onde, após cursar as faculdades de Harvard e Stanford, trabalhou como jornalista e editora de conteúdo para o site AfterEllen.com, portal da apresentadora Ellen DeGeneres voltado para o público lésbico e bissexual.

Ash fez grande sucesso na literatura queer, voltada para assuntos que escapam ao heteronormativo, ou seja, livros que tratem sobre, ou que possuam, personagens gays, bissexuais, trans, ou representativos de uma sexualidade fora do padrão. Esse gênero é especialmente escasso no tocante a literatura infantil e infanto juvenil, e, após repetidamente me deparar com comentários sobre o livro (que concorreu a diversos prêmios literários, inclusive o Lambda Literary Awards, prêmio para literatura LGBT) resolvi encomendá-lo. Sinto dizer que esperava um pouco mais.

O livro conta a história de Ash, uma menina que, órfã e à mercê de uma madrasta cruel, busca refúgio em seus devaneios. Um dia, Ash encontra Sidhean, uma fada misteriosa, e pensa ter descoberto a magia que tanto procurava. Porém, quando Kaisa, a Caçadora do Rei, cruza seu caminho, Ash percebe que terá que escolher entre o amor recém-descoberto e a magia com que tanto sonhava – e Sidhean já a tomou para ele.

O livro se propõe fazer uma releitura moderna do conto da Cinderela, e, embora tenha diferenças circunstanciais, o cerne da história é o mesmo – Ash, que significa “cinzas”, é uma referência clara à “gata borralheira”. Apesar da pretensão da autora de abordar temas como morte e aceitação, solidão e descoberta, a falta de personalidade da protagonista torna todo desenvolvimento raso. Ash parece ser carregada na historia por pura inércia literária, e, a indiferença da personagem interfere na leitura. O roteiro se desenrola quase automaticamente, em cima de um modelo de conto de fadas, com uma surpreendente ausência de conflito. Embora Ash se veja forçada a fazer escolhas, essas não se apresentam tanto como problemas quanto como evoluções previsíveis da história.

A identificação com a personagem, cujas motivações parecem quase artificiais, é difícil. Não só isso, mas o romance entre Ash e Kaisa parece em pontos quase forçado e platônico em excesso. Sidhean, provavelmente o mais interessante das personagens, cumpre uma função perfunctória – ele está lá para cumprir seu papel e nada mais.

Embora seja bem escrito, utilize uma prosa acessível e até bonita, e demonstre uma certa dose de sensibilidade, Ash é, em última análise, um conto banal e simplificado, curto demais, e pouco desenvolvido. A grande tragédia, penso, não é que Ash seja apenas uma distração para uma tarde ociosa, mas sim que possuía potencial para ser algo muito mais duradouro e não soube aproveitá-lo. Pode ser uma opção interessante para fãs de romances sobrenaturais como a série Crepúsculo, com o bônus de oferecer uma visão mais saudável de amor. Vale notar também que o livro, embora fale de sentimentos entre mulheres, não é minimamente gráfico ou polêmico, se afastando de qualquer discussão sobre sexo... O que pode ter sido um de seus pontos fracos.

Para interessados, Ash, assim como sua continuação Huntress, é publicado pela editora Little Brown Young Readers, por cerca de $12,00 dólares. Disponível, por enquanto, apenas em inglês.